Medo do Dentista

MEDO DE DENTISTA

Inacreditável, ininteligível e até inadmissível em pleno século XXI, o renitente “medo de dentista”, que é um indicador eloquente de que a Odontologia evoluiu muitíssimo tecnicamente e pouco na sua imagem exterior, sinais evidentes de que ela precisa ser mais divulgada e promovida em seus avanços.

Os vários fatores psíquicos, psicológicos e psicossomáticos envolvidos, desde o temor cultivado na infância (“se não comer vou te levar no dentista”) até a aceitação social da falta de dentes, são mais próprios para análise dos profissionais especialistas de cada área pertinente.

Vamos nos ater em pontos que podem ser minimizados ou contornados com iniciativas de marketing, para um melhor posicionamento da classe perante sua potencial clientela, algumas vezes distante exatamente por falta ou falha de comunicação, que embora simplistas, podem emprestar colaboração.

Indo direto ao ponto, um deles é o tempo de espera na sala de espera, que por este motivo deveria ter sua denominação trocada por ante sala, recepção, sala vip ou outro da preferência e conveniência de cada um, para não dar a ideia ao paciente, logo em sua chegada, de que irá ter de esperar.

Como boa parcela dos Cirurgiões Dentistas hoje trabalha com hora marcada, os pacientes imaginam que não deveriam esperar. Não por outro motivo, que não o martírio que para muitos significa momentos de estresse, angústia ou até pavor, principalmente quando alguns ruídos podem ser escutados.

Uma maneira de evitar atrasos poderia ser treinar melhor as atendentes responsáveis pela marcação da agenda, para balancear o agendamento, considerando e distribuindo os diferentes procedimentos durante o dia, como já abordamos nos livros Marketing Odontológico e Marketing para Atendentes.

Outra seria um trabalho constante, contínuo e incansável de desmistificar alguns, hoje, falsos mitos que podem levar medo aos atuais e futuros pacientes:
Motorzinho era o de corda, do tempo em que os aviões ainda tinham motor, já que hoje a maioria tem turbina, o que diminuiu consideravelmente o medo de avião … e de dentistas.

Picada da agulha era no tempo em que ainda não existia o pré-anestésico e de quando as agulhas não eram tri-biseladas e siliconizadas. Cadeira de dentista metia medo quando ainda era quadrada e dura. Hoje é sabido por todos os CD’s (pena que não pela população) ser a mais confortável dentre todas.

Dentro deste conceito de mudança de imagem, o próprio símbolo da Odontologia, a serpente, que boa parte não sabe bem o seu significado ou sentido e da qual a maioria tem medo, poderia ficar só para os impressos oficiais das entidades, sendo substituída pela imagem mais bonita e atrativa, que é justamente uma das razões de ser da profissão: o sorriso.

Para completar os retoques na imagem do Cirurgião Dentista, que outrora eram predominantemente masculinos e hoje alegremente mais femininos, antes sisudos e de pouco diálogo (até pelo paciente estar de boca aberta e necessidades do profissional pela biossegurança), o bom humor.

Esta mudança pode ser desenvolvida pela troca do corriqueiro “jogar conversa fora”, por algumas piadas ou estórias bem humoradas, que como contribuição reuni nos livros Odontopiadas e Odont’humor. Que se bem contadas, descontraem e ajudam a desmistificar a imagem do profissional.

A bem da verdade, todos nós gostamos mais de pessoas bem humoradas, que nos atendam com alegria e não raras vezes alguns radicalizam, não aceitando serem tratadas por pessoas que não o tenham. Tomara que em um dia não muito distante, muitos digam: “o meu dentista é muito legal, conta até umas piadas para distrair a gente”.

ODONTOFOBIA  – Ansiedade dentária e fobia de dentista.

ANSIEDADE DENTÁRIA

A maioria das pessoas tem algum receio de frequentar o consultório dentário.

Estima-se que 8% da população apresenta um quadro de ansiedade exacerbada em relação ao dentista, indo ao consultório com dificuldade, devido a um quadro agudo e doloroso. Apresentam ansiedade de antecipação, antecipando que algo muito ruim possa acontecer. O medo acentuado da dor aumenta a sensação subjetiva da mesma. Podem estar presentes sinais fisiológicos de ansiedade, como aumento da frequência cardíaca, respiração ofegante, sudorese, tremores, tensão muscular, entre outros.

Pode ser provocada por acontecimentos anteriores consigo ou com pessoas próximas, desinformação, medo do desconhecido, sensação de imprevisibilidade e outros. Porém, o melhor preditor para um quadro de ansiedade é a presença de outro quadro de ansiedade. Muitas dessas pessoas apresentam ansiedade em outras situações. Podem ter comportamentos obsessivo-compulsivos, serem portadores de transtorno de pânico, de outras fobias, de ansiedade crônica (um tipo de ansiedade caracterizada por preocupações excessivas e recorrentes), de ansiedade ou fobia social (um tipo de timidez altamente incapacitante).

A ansiedade dentária pode não impedir o tratamento, mas dificulta e muito o trabalho do profissional que deverá munir-se de paciência para a execução do mesmo.

FOBIA DE DENTISTA

O que define uma fobia e a diferencia da ansiedade “comum”?
 A presença da evitação, da esquiva para escapar do mal estar do estímulo fóbico e a exacerbada ansiedade de antecipação. Só de pensar em ir ao dentista estas pessoas apresenta intenso sofrimento.

Na fobia dentária pode ocorrer um autêntico ataque de pânico do cliente ao adentrar a sala do profissional. Diante do estímulo foiço a pessoa apresenta taquicardia, sufocação, ondas de frio ou de calor, sudorese, tensão muscular, pernas bambas. É acometido por violenta onda de terror e tem a sensação de que vai morrer, ter um ataque cardíaco, ficar louco ou perder o controle da situação. É uma das mais aterrorizantes sensações narradas pelo ser humano. Há casos de desmaio na cadeira do profissional.

O medo apresentado é desproporcional à situação e reconhecido como tal, mas inevitável. A pessoa “sabe”,  mas não consegue “deixar de sentir”. A mera sugestão de uma consulta, a pessoa apresenta pensamentos catastróficos. Sua autoestima está bastante comprometida. Para evitar o sofrimento psíquico a pessoa não vai ao dentista, com evidente prejuízo para sua saúde bucal que muitas vezes apresenta sérios prejuízos.

Entre os estímulos fóbicos mencionados pelos pacientes podemos citar a anestesia, vibração do motor, medo de injeção, anestesia, sangue, odor característico de materiais, roupa branca do dentista, entre outras.

Ocorre em 4% da população, aproximadamente.

Algumas formas de odontofobia podem suceder a um ataque de pânico. A pessoa sente medo de “ter aquilo de novo” e não ter como ser socorrida. Aqui teríamos um caso de agorafobia e não uma fobia de dentista. Mas isso fica para a próxima.

 

MEDO DE DENTISTA (crianças)

O tratamento dentário sempre causou muito medo às pessoas.

O equipamento, os instrumentais, os aparelhos usados antigamente causavam, no mínimo, um desconforto grande ao paciente, isto sem dizer da dor propriamente.

Não havia agulhas descartáveis. As utilizadas, precisavam ter grosso calibre para poderem suportar as diversas vezes em que eram desinfetadas nos ebulidores. Ao se aplicar uma anestesia, portanto, com uma agulha destas, é evidente que se traumatizava mais do que o necessário.

Para uma cavidade ser aberta, usava-se a caneta de baixa rotação e esta só funcionava bem sob pressão. Além da força, o paciente sentia também o trepidar até mesmo da cabeça toda. Um horror!

Estas práticas todas, comuns para a época, causavam, no entanto, muita dor ao paciente.

 

E foi assim que se espalhou a notícia de boca em boca: dentista passou a ser sinônimo de DOR.

As mães, por sua vez, alertavam seus pequenos:

“- Se não comer o espinafre com jiló, te levo ao dentista prá ele arrancar teu dente!”

O DESCONHECIDO

O paciente, criança ou adulto, vinha então ao consultório como quem vai para o matadouro. Certo, absolutamente certo que ia sofrer.

Este conceito foi se efetivando pelos motivos citados anteriormente e também porque, isto em especial para crianças, o consultório de um dentista, com todos aqueles equipamentos, todos aqueles instrumentais, tudo tão grande, tão atemorizante, representava o desconhecido e nós temos sempre medo do desconhecido!

Quando este desconhecido se torna conhecido, o medo desaparece (ou diminui muito).

Baseada neste princípio tão simples é que venho, há alguns anos, realizando um trabalho com mães e crianças, já que sou Dentista da rede pública de saúde.

DESSENSIBILIZAÇÃO

Dei este nome pomposo àquilo que faço e que, felizmente, tem surtido um efeito muito bom.
Consiste em 3 etapas:

1ª Etapa:

As crianças novas são marcadas todas para o mesmo dia, no mesmo horário. O número ideal é6 a7.

2ª Etapa:

Conversa com as mães: crianças e mães são reunidas em uma sala. Esta conversa tem como objetivo dar às mães as seguintes noções:

  O que é um dente: que partes o compõem
  A má higiene causando cárie e problemas endo periodontais.
  Como o dentista age para extrair um dente (desfazendo os ligamentos) e a mesma ação executada pelo tártaro.
  A importância da integridade da polpa.
  As duas dentições: quando nascem e sua importância.
  O valor do dente de leite
  A escova dental e a higienização bucal
  Perguntas mais frequentes que as mães fazem ao dentista:
     O antibiótico estraga os dentes?
     E o Sulfato Ferroso (tão indicado para anemias)?
     Dente decíduo, implantado ainda e já erupcionando o permanente
       (as mães entram em pânico quando isto acontece)
     Doces: o que fazer? Dar ou não?
     Chupeta ou dedo? Qual o menos ruim?

Esta conversa dura em média meia hora e é tida como objetivo de dar alguma orientação às mães para que possam perceber a importância de dentes sadios em seus filhos. E também para mudar a mentalidade de certas mães (e muitas até) de que, dente de leite cariou, é melhor extraí-lo já que ele não serve para nada.

Os termos usados nesta conversa devem ser os mais simples mesmo que se perceba presentes mães diferenciadas. É que, diferenciadas ou não, as pessoas quase nada sabem de dentes. Além do que ninguém está ali para uma aula técnica. As palavras devem, precisam ser de fácil entendimento.

O importante é que não se transforme em uma palestra, embora o quadro-negro deva ser utilizado (o que lembrará uma aula) mas tudo deve ser feito para incentivar perguntas. E o interessante é que as perguntas brotam como nem se imaginava.

As crianças estão também nesta sala. Geralmente não se manifestam mas é incrível observar, mais tarde, como informações que transmitimos nesta ocasião, foram assimiladas por elas.

3ª Etapa:
AS CRIANÇAS

Após a conversa, todos se dirigem para o consultório (mães e crianças). As mães são orientadas para ficar em silêncio, só observando. A ideia é fazer com que a criança se concentre mais no dentista. Aqui é que vai iniciar o contato entre o profissional e paciente: a amizade, a confiança, a simpatia.

As crianças então rodeiam a cadeira. O dentista inicia mostrando como ela sobe e desce. Cada paciente aperta o mesmo botão (ele está começando a dominar o “desconhecido”).

Pede-se alguém para sentar ali, algum voluntário. Neste momento o dentista já pode ir observando com que personalidades vai trabalhar. É muito comum ninguém querer sentar. Se isto acontecer, basta apenas convidar aquele que já demonstrou alguma “coragem”(geralmente os maiores). Neste capítulo é também bom lembrar que sempre se deve escolher a criança que possua cárie iniciante.

Não acho recomendável qualquer exodontia na primeira consulta.

Muito bem. A criança já está sentada e os outros estão à sua volta. O profissional mostra como funcionam os botões da seringa tríplice. Para que serve o ar, para que serve a água. Todos experimentam os botões, valendo até mesmo alguma brincadeira de lançar água um no outro.

Depois é a vez do sugador.

Pronto. Agora vamos para o alta rotação. Esta parte deve merecer cuidados. É a parte talvez principal. A caneta é demonstrada com histórias (cada dentista deve ter a sua). Eu falo do chuveirinho parecido com o que se temem casa. A broca é passada no dorso da mão de cada paciente. Explica-se a seguir que, apertando o pedal, vai sair água do chuveirinho. Costumo aqui, para “desarmar” a criançada, borrifar água no rostinho delas. Elas gostam!

Agora vamos à cárie. Passa-se o alta rotação, removendo a cárie o quanto possível para que não cause dor. Elas perguntam se está doendo e a resposta do paciente é sempre “não” porque o dentista soube escolher o dente.

Depois vem o fechamento da cavidade que pode ser com IRM ou amálgama. Todas participam, ajudando a preparar o material.

É só isto.

O interessante é observar que aquela pequena, mais arredia no início, já começa a se aproximar e depois do terceiro ou quarto ter sido atendido, é comum ela querer sentar também.

E para completar, cada criança ganha uma bola feita com as luvas que o dentista usou.

 

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