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Tabagismo

 

A classe odontológica adverte: fumar provoca periodontite, mau hálito e câncer bucal.



Apesar de toda a conscientização, 4 milhões de pessoas morrem todo ano de problemas decorrentes do fumo e a Organização Mundial da Saúde estima que em 2020 serão 10 milhões. Tais números, obviamente, não chegam todo dia ao cidadão comum. Principalmente se esse cidadão está entrando na adolescência e tem coisas mais importantes a fazer do que ficar se prendendo a estatísticas. Mas as evidências estão aí, e não são poucas. Mesmo assim, por que tantas pessoas continuam fumando?

As agradáveis tragadas podem levar a problemas que, normalmente, não são diretamente relacionados pelos leigos. São os casos das doenças da boca. Quem fuma tem 4 vezes mais chances de contraír periodontite (doença que causa a destruição do osso que sustenta os dentes). Isso porque o fumo aumenta a descamação da mucosa oral, provaca aquecimento da gengiva, destruição do tecido ósseo e pode ter como conseqüência sérios problemas dentais.

Há a possibilidade de ocorrer outro problema, bem menos grave do ponto de vista físico, mas que representa um golpe fortíssimo naqueles que têm no cigarro uma forma de socialização: o desagradável mau hálito, aquele cheiro de ovo podre que costuma afastar as pessoas. Os fumantes têm mais possibilidades de serem vítimas desse problema. Confirmando o que estamos dizendo, basta verificarmos que os fabricantes de cigarro, preocupados com o fato, estão adicionando certas substâncias aromatizantes ao fumo, com o objetivo de neutralizar o odor desagradável que causa, sem contudo obterem êxito.

Podemos observar na boca de um fumante a atrofia das papilas gustativas, alterando a sensação do gosto dos alimentos. Pode trazer também uma série de transtornos, como redução do fluxo salivar, manchamento dos dentes, estomatites e até doenças mais graves como o câncer de mucosa bucal. Há uma relação direta entre o fumo e o carcinoma epidermóide, que é o principal tipo de câncer bucal.

 

Controle do Tabagismo na Prática Odontológica

O tabagismo é um hábito perigoso.

Está comprovado que fumar reduz o tempo de vida e causa aumento na incidência de câncer, doença cardíaca isquêmica, derrame, infarto do miocárdio e doenças pulmonares crônicas.1,2  Cerca de 90% de todos os cânceres de pulmão são atribuídos ao hábito de fumar, e a taxa de sobrevivência em cinco anos entre pacientes portadores de câncer é de 5 a 10%.

Além de ser prejudicial à saúde geral, o tabagismo também compromete a saúde bucal. O hábito de fumar foi associado ao aumento de risco de câncer bucal, leucoplasia, gengivite ulcerativa necrosante aguda,  guna candidíase bucal, insucesso de implantes dentais e doença periodontal, e interfere no resultado de terapias periodontais cirúrgicas e não cirúrgicas.

Fumar resulta em vasoconstrição periférica e, consequentemente, em prejuízo à cicatrização de feridas na boca.

Fumantes geralmente apresentam mais placa do que não fumantes, mas isso pode estar relacionado à má higiene bucal.  Não há fortes evidências do efeito do tabagismo na incidência de cárie dental; porém, há indicações de que alterações no pH e na capacidade tampão da saliva possam contribuir para sua formação.

Por fim, fumar causa descoloração nos dentes e nas restaurações dentais, prejudica os sentidos do olfato e paladar e, frequentemente, provoca halitose.

O hábito de mascar tabaco geralmente causa enrugamento da mucosa bucal e recessão gengival.

O uso de determinados produtos de tabaco sem queima pode resultar em aumento nos casos de câncer bucal, embora produtos comumente usados em algumas partes do mundo, como na Escandinávia, pareçam aumentar muito pouco esse risco.
As Obrigações da Equipe Odontológica

Devido às implicações do tabagismo na saúde a longo prazo, tanto na saúde geral como na saúde bucal, os profissionais de odontologia têm por obrigação estimular seus pacientes a pararem de fumar.

Intervenções dos profissionais da saúde contra o hábito de fumar apresentam bom custo-benefício devido à prevenção de doenças relacionadas ao cigarro.

Estimativas da porcentagem de dentistas que rotineiramente perguntam aos pacientes se eles fumam variam entre 33% e 84%.

Mesmo quando o tabagismo é confirmado, entretanto, a intervenção do profissional raramente vai além de aconselhar ao paciente que abandone o hábito.

Existem diversos empecilhos à intervenção dos dentistas e higienistas dentais contra o tabagismo dos pacientes. Entre os principais estão a falta de conhecimento sobre como ajudar o paciente a parar de fumar e a falta de tempo e de pagamento para essa intervenção.

Devido às implicações do tabagismo na saúde a longo prazo, os profissionais da odontologia têm por obrigação estimular seus pacientes a parar de fumar

Outros obstáculos incluem a ideia de que a intervenção contra o tabagismo não apresenta grandes perspectivas de  sucesso e não é da responsabilidade dos profissionais de odontologia.

Os profissionais de odontologia possuem oportunidades valiosas durante os exames bucais de rotina para influenciar nos hábitos de fumar, pois frequentemente entram em contato com fumantes que, de outra maneira, não procurariam atendimento médico.

Identificar os sinais de uso de tabaco durante os exames bucais pode facilitar o início de uma discussão com o paciente sobre os efeitos do tabagismo.

Experimentos clínicos mostraram que a intervenção dos profissionais de odontologia ajuda os pacientes a deixarem de fumar, e as taxas de abandono do tabagismo, observadas na maioria dos experimentos, variou de 10% a 44%, dependendo do grau de assistência oferecida.

Como Ajudar o Paciente a Parar de Fumar 

Um conhecimento maior sobre como ajudar um paciente a parar de fumar provavelmente estimularia mais profissionais da saúde dental a intervir. Para ajudar os clínicos, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos produziram um guia clínico prático para tratar do uso e da dependência do tabaco.6 A diretriz completa, um guia de consulta rápida para clínicos e um folheto para pacientes estão disponíveis no endereço www.surgeongeneral.gov/tobacco.

A diretriz descreve os cinco principais passos da intervenção clínica para ajudar os pacientes a pararem de fumar, também conhecidos como os “Cinco As”: ask, advise, assess, assist e arrange (perguntar, aconselhar, avaliar, auxiliar e planejar) (Tabela 1).

Os três primeiros passos — perguntar sobre o uso de tabaco, aconselhar os usuários a abandonarem o hábito e avaliarem o desejo do paciente de parar — podem ser realizados durante uma consulta clínica de rotina e requerem relativamente pouco tempo, esforço e treinamento. Se um fumante desejar parar, os próximos passos destinam-se a oferecer assistência prática para o alcance dessa meta, e providenciar follow-up para oferecer estímulo e cobrar resultados. Essa estratégia foi desenvolvida para tomar três minutos ou menos do tempo clínico; intervenções assim curtas podem aumentar de maneira significativa o índice de sucesso nas tentativas de abandono do tabaco.


Intervenções de apenas três minutos podem aumentar de maneira significativa o índice de sucesso nas tentativas de abandono do tabagismo
 

 

 

Usando os “Cinco As” como guia, e levando em conta as limitações de seus recursos, os profissionais de odontologia devem considerar até que ponto desejam intervir na dependência do tabaco e sua capacidade para isso.

 

Os “Cinco As” para Ajudar Pacientes que Desejam Parar de Fumar
 

Passo Ação Estratégias de Implementação
Perguntar Documentar rotineiramente acondição de tabagismo de todos os pacientes a cada consulta • incluir o uso de tabaco na ficha padrão a cada consulta• colar adesivo indicando uso de tabaco na ficha do paciente
Aconselhar Estimular todo fumante a parar de fumar• • fornecer informações de maneira clara e contundente• personalizar o aconselhamento com base na situação de vida do paciente (p. ex., estado de saúde, impacto do tabagismo na família, fatores econômicos)
Avaliar Determinar o desejo de tentar parar • se o paciente desejar parar, fornecer assistência (ver a seguir)• se o paciente não deseja parar, fazer intervenção motivacional (os “cinco R’s”; ver texto)
Auxiliar Ajudar o paciente a parar • ajudar o paciente a desenvolver um plano para parar (p. ex., determinar data, preparar apoio social, modificar o ambiente)• fornecer aconselhamento prático (p. ex., evitar outros fumantes, evitar uso de álcool, enfatizar a abstinência total, aprender com tentativas passadas)• promover um ambiente clínico de apoio• farmacoterapia recomendada, quando não contra indicada• fornecer materiais complementares
Planejar Agendar consulta de acompanhamento pessoalmente ou por telefone • durante a primeira semana após a data de abandono, com um segundo acompanhamento durante o primeiro mês• parabenizar o sucesso ou revisar as razões para fracasso e estimular uma nova tentativa

 

Todos os consultórios odontológicos deveriam ao menos monitorar o uso de tabaco pelos pacientes e aconselhar os fumantes a pararem de fumar.

Os profissionais de odontologia podem optar por implementar serviços próprios para abandono do tabagismo, encaminhar os pacientes para serviços disponíveis na comunidade ou estimular a disponibilização desses serviços por outros profissionais ou organizações de saúde.

No mínimo, os profissionais de odontologia devem ser capazes de orientar os pacientes a obterem informações que possam ajudar em suas tentativas de parar de fumar.

Além do aconselhamento e do suporte social, auxílios farmacológicos são seguros e eficazes para aumentar a probabilidade de uma tentativa bem-sucedida de parar de fumar

A terapia de reposição da nicotina destina-se a satisfazer o desejo do fumante pelo uso de nicotina, sem a utilização de produtos derivados do tabaco.8  Gomas de mascar e adesivos com nicotina são vendidos sem prescrição nos Estados Unidos e no Canadá.6,8 Além disso, inaladores e sprays nasais com nicotina podem ser usados.

O medicamento antidepressivo bupropiona também é indicado para parar de fumar.6,8 Essa droga pode apresentar efeitos

particularmente benéficos, uma vez que pacientes deprimidos geralmente apresentam índices de sucesso mais baixos ao tentar abandonar o tabagismo, e algumas pessoas não deprimidas podem se tornar deprimidas ao tentar parar de fumar.

Após treinamento adequado ou consulta com o médico do paciente, os dentistas podem prescrever farmacoterapia antitabagismo.  As contraindicações para cada terapia e possíveis interações entre as drogas naturalmente devem ser consideradas antes de se recomendar a farmacoterapia ao paciente.

Se um paciente não quiser parar de fumar, recomenda-se uma intervenção motivacional com base nos cinco “Rs”: relevance, risks, rewards, roadblocks e repetition (importância, riscos, compensações, obstáculos e repetição).6 Em resumo, deve-se pedir ao paciente para indicar a importância pessoal de parar de fumar, as consequências negativas do tabagismo, benefícios de parar e obstáculos que dificultam o abandono do hábito. O clínico pode ampliar as respostas do paciente, destacar pontos que sejam relevantes para a situação pessoal do paciente ou sugerir formas de vencer as barreiras para o abandono. A intervenção motivacional deve ser repetida a cada contato com o paciente.

Ao lidar com pacientes que pararam de fumar recentemente, os profissionais de odontologia devem reforçar a decisão do paciente, discutir os benefícios de abandonar o hábito e oferecer assistência para as dificuldades que o paciente estiver experimentando.

Quando se trata de parar de fumar, os profissionais de odontologia podem fazer a diferença

Eles tratam de fumantes diariamente, podem facilmente reconhecer os efeitos do tabagismo na saúde bucal e têm a oportunidade de incentivar os fumantes a abandonar o hábito. Se dentistas e higienistas bucais não tiverem tempo e recursos suficientes para dedicar a uma intervenção para o abandono do tabagismo, recomenda-se que encaminhem os pacientes para serviços específicos de auxílio para parar de fumar. Por meio da redução da prevalência do uso de tabaco, dentistas podem melhorar tanto a saúde bucal quanto a saúde geral dos pacientes.