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Terceira Idade

O Direito de Sorrir dos Idosos

Ao nascer, temos duas certezas absolutas em nossas vidas: iremos envelhecer e morrer.

Esse fato gera um sentimento coletivo de repulsa ao envelhecimento e a morte.

A melhoria nas condições de vida, de saneamento básico e os avanços tecnológicos na área da saúde permitiram o aumento da expectativa de vida das pessoas, gerando o aumento do número de idosos na população mundial. Atualmente no Brasil, temos em torno de 14 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, sendo o sétimo país em número absoluto de idosos no mundo. Isto representa cerca de 9% de nossa população.

Estima-se que passaremos para a sexta posição mundial em 20 anos, com mais de 33 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.

A imagem que nossa sociedade associa ao idoso é aquela de uma pessoa com invalidez parcial, sentada em uma cadeira de balanço ou banco de uma praça e apresentando um sorriso sem dentes. Contudo, essa imagem do idoso inativo está mudando. Atualmente essas pessoas, por viverem em melhores condições, são muito mais ativas, tanto socialmente como culturalmente.

É comum vermos em nossas cidades a organização de grupos de terceira idade, de bailes, eventos, excursões e viagens exclusivas para essa faixa de idade. Esses fatos fazem com que o idoso deixe de viver segregado da família e passe a interagir mais com as pessoas e a sociedade.

Isso faz com que, para essas pessoas, a importância de apresentar dentes, naturais ou artificiais, se torne fundamental para a  convivência, ao sorrir e falar com outras pessoas e ao mastigar em eventos sociais. Por vezes, os benefícios sociais de apresentar um sorriso com dentes e em uma tonalidade de cor harmônica são muito mais desejados do que os benefícios funcionais que uma boa dentição, natural ou artificial (próteses), possa proporcionar para essas pessoas.

Entretanto, apesar do avanço tecnológico que a Odontologia alcançou, com a implantação de uma filosofia de manutenção e prevenção das perdas dentárias, com a redução dos índices de cárie e de perda dentária e com o aumento do acesso aos serviços públicos de saúde bucal, ainda temos em nosso país um elevado número de idosos com dificuldades de sorrir, por não apresentarem mais seus dentes.

Os dados do último levantamento nacional de saúde bucal mostram que o Brasil avançou muito, em termos de prevenção em saúde coletiva, na faixa etária de até 12 anos, atingindo as metas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o ano de 2000. Contudo, para as faixas etárias superiores os resultados ficaram bastante aquém do desejado.

A OMS estipulou que, em 2000, 50% da faixa etária de 65 a 74 anos deveriam apresentar 20 ou mais dentes na boca. O percentual alcançado no país foi de apenas 10,23%.

A meta a ser alcançada em 2025 para essa faixa etária é apresentar até 5% de pessoas desdentadas. Esse fato gera maior preocupação pois, atualmente, nosso país conta com cerca de 30 milhões de desdentados, em todas as faixas etárias. Mais de 80% da população adulta não apresenta as gengivas sadias e 13% dos adolescentes nunca consultaram um dentista.

As razões para observarmos ainda esse grande número de idosos desdentados totais ou parciais podem ser explicadas por motivos culturais e educacionais, quando antigamente as pessoas ao menor sinal de dor em seus dentes procuravam serviços para extraí-los ao invés de restaurá-los e mantê-los em suas bocas, e por motivos filosóficos dos próprios profissionais, que não estimulavam os pacientes a manterem seus dentes, muitas vezes pela falta de recursos tecnológicos. Felizmente, hoje o avanço tecnológico proporciona o tratamento e a manutenção dos dentes, fazendo com que a filosofia do atendimento odontológico seja bastante conservadora e vise a prevenção das doenças antes de sua ocorrência.

A implantação de métodos de prevenção de cárie na população brasileira, como a fluoretação das águas de abastecimento público, ocorreu em meados da década de 70 do século passado, quando muitos da população de adultos e idosos já haviam perdido seus dentes. Essa população, infelizmente, não teve acesso à filosofia de atendimento e aos métodos preventivos de perda dentária.

As pessoas idosas requerem cuidados especiais no atendimento odontológico por apresentarem um número maior de alterações e doenças crônico-degenerativas, inerentes do processo de envelhecimento humano, e pelo uso de vários fármacos para o tratamento dessas. Esses fatos e a tendência mundial de crescimento dessa população, que viverá mais tempo, com maiores possibilidades de menores perdas dentárias ou de necessidades específicas de atendimento odontológico, levaram a criação no Brasil, em 2002, de uma nova especialidade odontológica: a Odontogeriatria. O especialista em Odontogeriatria terá que reunir uma série de conhecimentos de fisiologia, de patologia, de farmacologia, de saúde coletiva e de reabilitação desses pacientes, atuando, de forma interativa, com os demais profissionais de saúde que tratam o idoso, como geriatras, fisioterapeutas e outros.

No serviço público, além da inserção desse tipo de profissional, o outro desafio será destinar recursos para cumprimento das disposições estabelecidas no Estatuto do Idoso, que delega ao Poder Público a obrigatoriedade de execução de políticas de saúde destinada aos idosos e ao direito desses de receber serviços especializados de saúde bucal, incluindo o tratamento gratuito com próteses para o restabelecimento da dentição perdida.

O grande desafio agora será fazer cumprir essas diretrizes do estatuto e de qualificar os profissionais cirurgiões dentistas para que possam fornecer o tratamento mais adequado aos idosos para que esses possam voltar ou continuar a ter o direito de sorrir.

* EDUARDO HEBLING é professor Associado do Departamento de Odontologia Social
da Faculdade de Odontologia de Piracicaba/UNICAMP e coordenador do Curso de
Especialização em Odontogeriatria da UNICAMP.
Texto publicado originalmente em:
http://www.fop.unicamp.br/portal/news.php?codnoticia=948
Fonte: Assessoria de Imprensa da Unicamp. Ronei Thezolin

TERCEIRA IDADE E ODONTOLOGIA

A idade sozinha não pode apontar se o indivíduo é velho ou não: ela apenas classifica, pois a sociedade é quem vai determinar essa categoria social e, portanto ser velho é um conceito cultural. Não nos sentimos velhos nem sentimos interiormente as transformações físicas que surgem. Somente nos conscientizamos delas por meio do olhar do outro, pois interiormente, há sempre uma ilusão de eterna juventude.

Aumentar vida aos anos, e não anos à vida, em geral é a meta de qualquer profissional da Saúde.

O processo de prevenção contra os males do envelhecimento deve fazer parte dos planos de qualquer pessoa a partir dos 30 anos de idade.Exames regulares, administração do estresse, “check-up”, atividade física e mental e alimentação balanceada são alguns itens de todo um processo que deve começar, por exemplo, com exames de avaliação hormonal e bioquímica.

Com o passar dos anos, o sistema orgânico que alerta sobre a sede pára de funcionar corretamente. É preciso impor-se a missão de beber pelo menos 1,5 litro de água, mesmo que não sinta sede.

Segundo os especialistas, o ideal é manter uma dieta rica em verduras, legumes, frutas, cereais e carboidratos, encontrados em pães e massas. Alimentos ricos em açúcar e gorduras podem ser incluídos nas refeições, mas com moderação. O leite e seus derivados são bem-vindos por serem importantes fontes de cálcio, que previnem contra a osteoporose. Tudo isso deve ser ingerido com moderação em intervalos menores de tempo. Logo, em vez de fazer três refeições por dia, o idoso pode fazer cinco ou seis, desde que não exagere na quantidade. E, claro, depois de cada uma delas, cuidar imediatamente dos dentes, mesmo quando não são naturais.

Muitas alterações bucais decorrentes da idade são determinadas pela perda da dentição natural. Isso influi em aspectos que vão desde a estética até a mastigação e o paladar. Com o tempo, as mucosas bucais perdem a proteção natural e ficam mais suscetíveis a ferimentos. Os problemas de fundo emocional, como a depressão, também trazem um certo risco para a saúde, pois a pessoa deixa de executar diversas ações, entre elas escovar os dentes.

Também não dá para apelar para a dentadura, acreditando que basta estar sem dentes para evitar transtornos. Ocorre uma reabsorção óssea da ordem de 25% do osso alveolar nos primeiros três meses de uso da prótese, após a extração dos dentes. Depois desse período ela deve ser reembasada ou refeita, e a troca deve se realizar à cada quatro anos, para manter sua capacidade de mastigação e ingestão de alimentos.

A redução do fluxo salivar, associada à saburra língual ( ver artigo “Mau hálito”), ocorre em no mínimo 30% da população, podendo atingir percentuais muito superiores, em até 84%, em pacientes com idade avançada , superior a 50 anos. As pessoas a partir dessa idade, passam a usar medicamentos rotineiramente, entre eles hipotensores, calmantes e antidepressivos, entre outros, com efeitos colaterais xerostômicos, que reduzem a salivação, facilitam a formação de saburra e mau hálito. Além disso, outro fator comum entre os pacientes idosos é o diabete, tanto do tipo 2, quanto o senil, que também provoca por alteração do equilíbrio eletrolítico, redução do fluxo salivar, saburra e mau hálito.

Um fluxo salivar normal é fator preponderante de resistência do hospedeiro em relação à cárie, doença periodontal, halitose, adaptação de próteses totais e conforto do paciente. Se houver apenas saburra e mau hálito, podem ser usados os sialagogos gustativos e tácteis (como frutas cítricas e misturas de sal e limão). Os sialagogos farmacológicos podem ser usados, desde que sejam observados suas restrições: alterações cardiovasculares, alterações de próstata, glaucoma de ângulo fechado e, principalmente, mal de Parkinson – pacientes que tomam medicamentos para esse problemas estão proibidos de usar os sialagogos farmacológicos.

Fonte: Parajara, F. e Guzzo, F., Sim, é possível envelhecer saudável, revista da APCD v. 54, n.2 Mar./Abr. 2000, p.91-97.

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